Aquele homem alto, aparentemente forte, usando calça social bege, parecia estar decidido. Pedi ajuda. Eu dizia: olha lá, ajuda ele. Mas a senhora não se mexia, toquei em seu ombro, chacoalhei e nada. Ela continuava sentada, mole, como em transe, sem reação.
Ele pulou!
Resolvi verificar a situação, repentinamente, o mar (antes lá embaixo), sobre e avança sobre o penhasco tomando conta de tudo, deixando o local como se fosse a beira de uma praia, porém, em cima de uma montanha.
Entrei no mar, era um dia lindo de sol e, não demorou muito, cheguei na borda. No momento em que meu pé deslizou e sentiu que havia chegado ao fim do monte, a onda, delicadamente, me empurrou para fora da água como se quisesse me salvar, como se dissesse que lá era muito fundo e eu não merecia cair. Então, tranquilamente me deixei levar, observando a areia sobre meus pés. Depois olhei a casa ao longe, cercada de mato verde, e percebi que, quando deixamos a natureza agir, ela trabalha a nosso favor, fazendo a vida corrigir o curso quando estamos na direção errada.
No quarto de hotel, deitei em teus braços e ali fiquei. Completamente protegida pelo teu amor, pude admirar a chuva que escorria no vidro da janela.
O campeonato mundial de surf.
A praia estava cheia de turistas e a televisão fazia a transmissão para o mundo inteiro. Grandes nomes da World Surf League se faziam presentes.
Na tela da TV, o repórter repassa todas as informações sobre o evento enquanto toca no fundo músicas que fizeram sucesso nos verões dos anos 80.
Louie Louie, oh baby, me gotta go.
Louie Louie, oh baby, me gotta go.
A fine little girl, she waits for me.
Me catch the ship across the sea.
I sailed the ship all alone.
I never think I'll make it home.
No outro lado da cidade, uma marcha de super heróis. Capitão América e cia. faziam a escolta policial do local e mantinham a ordem e a segurança da população.
De repente, o cenário muda para fronteiras muito além.. Eis que surge em minha memória, a imagem de um vídeo do meu Yorkshire na beira do mar pulando e me olhando feliz. Era dia de sol. Pude ver a areia e a espuma da onda que suavemente fazia a sua "dança" diária. Eu estava acompanhada, a energia do momento era tão positiva, tão forte e sublime que ainda posso senti-la. Havia um homem que apreciava a minha companhia, conversava comigo e me fazia sorrir. Que momento!
Um vídeo que nunca fiz, um cachorro que não é meu, um lugar onde nunca estive, alguém que ainda não conheci. Outra dimensão ou realidade paralela? Uma visão do futuro? Um desejo? Uma esperança?
Só sei que era você e esse momento é nosso, só nosso!
Uma cidade grande, com muitos prédios altos à beira-mar.
Um oceano cinzento, puxando para o azul chumbo.
Uma cena de cinema!
A primeira tomada dá um close nas costas expostas de duas mulheres loiras em uma lancha, se dirigindo para o alto mar. Elas estavam usando vestidos curtos, brancos com muito brilho e decotes nas costas. Uma delas tinha o cabela preso e a outra solto. As peles bronzeadas e torneadas indicavam que uma delas era a Britney Spears e a outra uma desconhecida, porém, ao mesmo tempo, era eu.
Ao começar a chegar em alto mar, a loira (eu), ficou assustada pois uma onde grande estava se formando em nossa frente. Felizmente, ela passou sem causar danos e a Loira de olhos azuis (eu) ficou aliviada. Foi possível captar minha reação e fisionomia por que houve um close em meu rosto para enfatizar a reação na cena. Eis que a câmera abre o ângulo e é possível ver toda a cidade ao fundo ficando distante.
Esta foi a cena final de algum filme que criei em meu tempo de vigília. Duas lindas mulheres no mar de New York, em direção à realização de seus sonhos, sorridentes e com a sensação de dever cumprido.
O mar, ah o mar, tanto nos acalenta e, de repente, alguém vem lhe dizer o quão insignificante ele é para a humanidade.
Outrora, nosso único desrespeito era nadar e não voltar mais. Contudo, quantos obtiveram uma segunda chance? Tão imenso e bravo e tão generoso ao mesmo tempo esse mar. Hoje, sofredor. Amanhã, um perdedor. Sem algas, sem peixes.
E, no balançar das ondas é onde sempre nos perdemos. Mas, para qualquer um, lá no fundo, sempre um pingo de esperança. O que deixa a suspeita maré do Quiçá. Quiçá cessaremos pouco antes de um Natal próximo. Quiçá, como um tapa de luva, vivamos para nos encontrar na beira de uma praia qualquer.